quarta-feira, 12 de setembro de 2012

Zuenir Ventura: A coragem de quem conhece o Rio partido.

O momento mais tenso do debate na TV entre os candidatos à Prefeitura do Rio ocorreu quando Eduardo Paes e Marcelo Freixo se desentenderam em relação às milícias. Acusado pelo candidato do PSOL de já ter se reunido com milicianos, o prefeito revidou afirmando que também o rival não tinha controle sobre a própria legenda, referindo-se ao candidato a vereador Berg Nordestino, que o partido de Freixo expulsou ao descobrir suas ligações com as milícias.

Paes alegou que não pode pedir folha corrida dos que recebe em seu gabinete para tratar de assuntos da cidade. E Freixo, presidente da CPI que desmantelou a máfia, indiciando 225 acusados (inclusive um ex-chefe de Polícia), argumentou que desconhecia a conexão do tal candidato com o ex-vereador Luiz André da Silva, preso por homicídio e justamente quem mais lhe fez ameaças de morte.

Portanto, mais do que denunciar a hipotética conivência dos dois candidatos com o crime, o que os episódios demonstram é como são insidiosos e sub-reptícios os membros dessa facção criminosa, capazes de se infiltrar numa reunião com o prefeito ou na chapa do partido que mais os combate.

Quando há quatro anos o antropólogo Luiz Eduardo Soares deu o alerta de que “o tráfico já era” e que as milícias constituíam algo mais pernicioso, ele foi criticado. Diziam que estava minimizando o real perigo representado pelo inimigo público número um da sociedade.

Era a época em que até autoridades consideravam os novos bandidos como “grupos comunitários de autodefesa”, “um mal menor e necessário”, uma espécie de antídoto contra o mal maior.

Foi preciso um filme de sucesso, o “Tropa de elite 2”, para o grande público descobrir que agindo nos morros e periferia do Rio existia algo tão nefasto quanto o tráfico: as milícias.

O antropólogo dizia que enquanto os traficantes são em geral jovens pobres que nunca saíram das favelas, os milicianos são “profissionais formados, treinados, com conhecimento técnico, com capacidade administrativa e financeira que se organizam para ocupar espaços políticos”.

Enquistadas no aparelho do Estado e difíceis de serem combatidas, extorquindo das comunidades milhões em serviços — gás, luz, TV, vans e, claro, drogas — as milícias são e continuam sendo, ao contrário do que se acreditava, perigosas forças paramilitares.

Mas, na verdade, acontecimentos como a chacina de Mesquita agora provam que em matéria de crime não há mal menor. Tráfico e milícias representam um mesmo mal maior: a barbárie.

Nenhum comentário:

Postar um comentário